segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Presépio

O presépio
Por Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

Chegando ao último domingo de Advento, já sentimos o cheiro do Natal. Faz tempo que as luzes estão piscando, as praças se enfeitam e as promoções natalinas gritam por ocasiões imperdíveis. As pesquisas dizem que muitos irão gastar o décimo terceiro salário para saldar dívidas, no entanto, algum presente, talvez mais simples e barato, deve fazer a alegria de crianças e adultos. Este ano, como Igreja Católica, propomos que as nossas famílias façam um momento de oração na frente do presépio, reunidas em suas casas, felizes e agradecidas por estarem juntas. Será um gesto simples, como pequeno e humilde pode ser o presépio. O importante será colocar, ao menos no Natal, o Menino Jesus em destaque nas nossas casas. Não estamos fazendo isso para aumentar a venda dos presépios, menos ainda para adorar imagens que, bem sabemos, se não quebrar antes, serão guardadas em algum cantinho e, muito provavelmente, esquecidas pelo resto do ano.

O que nos motiva a preparar o presépio nas nossas casas é a alegria da nossa fé. O Filho de Deus se tornou um de nós, porque somos importantes ou porque estamos precisando dele? Ambas as respostas são válidas e esclarecedoras. Se Deus amou tanto assim a humanidade é porque não considera perdidas e irrecuperáveis as suas criaturas. Mais: não quer que ninguém fique perdido. Não tem nenhuma ovelha tão desgarrada que não mereça a busca do Bom Pastor. Aos olhos do coração de Deus nós valemos muito: custamos o nascimento do seu Filho e, um dia, o seu sangue na cruz! Cada um de nós, no Natal, pode dizer que o Filho de Deus veio “por mim”. Eu, você, nós todos, somos muito amados. Contudo, precisamos reconhecer, que aquela que chamamos de “encarnaç ão” foi também “salvação”, ou seja, foi um buscar para devolver a dignidade de filhos a quem andava esquecido, indiferente, autossuficiente ou, literalmente, perdido, sem rumo e direção. Nós somos, ao mesmo tempo, a ovelha perdida, da qual o pastor sente falta e a pérola preciosa que alguém está disposto a vender tudo, para comprar.

 Eu sei que estou misturando as parábolas de Jesus, mas estou tentando expressar algo tão grande e maravilhoso que sempre me deixa surpreendido e, reconheço, até desprevenido de palavras e raciocínios. Este é sempre o drama – ou a aventura – da humanidade. De um lado, há quem se considere tão desmerecido do amor de Deus que prefere ficar no seu cantinho, talvez chorando os erros da vida, as ilusões perdidas, lambendo as suas próprias feridas. Por que não se deixa consolar? Por que não deixa que o Filho, o Bom Samaritano da humanidade, cure as suas chagas com o óleo do perdão e da misericórdia? Do outro lado, temos aqueles que se julgam bons o suficiente para não precisar da bondade dos outros – e nem de Deus -, convencidos de ter a solução para tudo. Se alguma coisa no mundo não funciona nunca é culpa deles, aliás, todos deveriam ser como eles, ou elas, aí, sim, as coisas dariam certo. Pobre humanidade! Triste de um lado, iludida do outro. Ou no meio: um dia para cima, um dia para baixo.

Voltamos a nos colocar na frente do presépio. Um Deus que se faz pequeno, criança, pobre e humilde, não amedronta ninguém. Não pode e nem quer. Somente nos pede para acolhê-lo, como um “filho” que entra nas nossas casas, às vezes esperado, às vezes não. Um “filho” novo, diferente, ao qual podemos contar todas as histórias da nossa vida, podemos pegá-lo no colo e chorar com ele. Podemos brincar, fazer festa, ele aceita presentes, carinho, beijos. Continuará sorrindo porque o nosso Deus tem “compaixão” da humanidade, escuta o nosso clamor, mas também nos dá o exemplo de mergulhar na história, de mudar por dentro as coisas, dentro de si e dentro das estruturas imperfeitas que nós mesmos criamos. Ao lado do Menino, tem a sua pobre família humana, uma m& atilde;e que tenta entender tamanha graça e um pai, disposto a “servir” aquele pequeno. 

Uma família unida pela alegria da fé, da oração, mas também pelo sofrimento, o trabalho, a perseverança na escuta da Palavra. Enfim, a família que o Pai deu ao seu Filho na sua passagem terrena. As nossas famílias também são os presentes que Deus nos deu neste mundo. Cabe a nós fazer a nossa parte para que sejam o mais possível semelhantes à família de Belém. Para isso também pode servir o presépio em nossas casas. 

Feliz Natal para todos!                                   

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