sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A canção dos pássaros

A canção dos pássaros
Por Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá

Um dia uma criança perguntou a seu pai:
 - Por que os pássaros cantam? Será que é porque estão alegres? Ou por que curtem a liberdade de voar? Será que é porque precisam se comunicar? Ou é uma maneira para agradecer pelo dom da vida? E os pássaros que estão presos, por que cantam? Por medo ou é um grito de desespero? O que os pássaros dizem com o seu cantar?

O pai, sabiamente, respondeu:

- Minha filha os pássaros cantam não é porque estão alegres ou tristes, não é porque querem conversar ou desabafar, eles cantam porque têm uma canção dentro de si.

No dia dos pais, uma pequena história de pai e filha. Ambos escutando o canto dos pássaros. Às perguntas curiosas da criança, o pai sugere buscar a resposta dentro de si: afinal toda criatura participa da grande sinfonia da vida, dom de Deus para todos.

Também Jesus, ainda no capítulo seis do evangelho de João, responde às murmurações dos seus interlocutores chamando em causa o Pai que deve ser escutado. Quem se deixa “instruir” pelo Pai reconhece o Filho que ele enviou, o acolhe, crê nele e possui a vida eterna. Dessa maneira, o evangelista João nos coloca na frente de uma opção. Quem se alimenta com o Pão da Vida, Jesus, pessoa, mensagem e mistério de amor, participará da ressurreição; o maná saciou o povo no deserto, mas não foi garantia de vida. Somente Jesus é o Pão vivo descido do céu, penhor de vida eterna. Nada de mágico ou fabuloso como o “elixir de longa vida” das lendas medievais.  Ao contrário, algo de muito concreto que, porém, somente se pode entender à luz da vida doada de Jesus. “Carne e sangue” são a sua própria vida oferecida até o sacrifício da cruz.

O Deus dos cristãos é um Deus comprometido com a história da humanidade, capaz de se comunicar, “instruir”, apontar e abrir caminhos novos. Fez isso no passado, não faltaram sinais, mas o povo nunca se deixou libertar da tentação de dominar, de ser superior aos outros, de usar a força no lugar da misericórdia. Também nós, se não mudarmos a nossa maneira de pensar e de olhar a vida de Jesus, ele sempre poderá nos parecer como o mais fracassado de todos: um condenado à morte de cruz, na maior vergonha e decepção. Ou aquele foi um ato supremo de amor-doção? Quem nos ensina a resposta certa? O “discípulo” que se deixa “instruir” por Deus-Pai, que “escuta” o Filho que ele enviou, que se “alimenta” com o sinal do amor – a Eucaristia - consegue entender a grandeza do mistério do amor de Deus e, assim, participa da vida divina.

Tudo isso parece tão difícil, tão longe do nosso dia a dia. No entanto, ao nos chamar à vida, o Pai, bondoso e misericordioso, coloca no coração de cada um uma canção de bondade e de gratidão pela vida, pela natureza, pela fraternidade humana. O ser humano não está irremediavelmente perdido. Não estamos cambaleando num deserto sem fontes, sem alimentos, sem rumo. Basta deixar brotar o canto de amor que está dentro de nós, escutá-lo bem, para aprendê-lo e cantá-lo todas as vezes que pudermos, nos momentos de alegria e nos momentos de provação, sem desistir. Essa canção vem junta com o dom da vida, da família que nos gerou e nos acolheu, vem junta com a capacidade de nos maravilhar pelas coisas bonitas que existem e que também recebemos em uso. Se quisermos, podemos fazer da nossa vida um canto de esperança e não um lamento sem fim ou um grito que amedronta. Este é o primeiro passo para aprender a “escutar” o que o Pai nos diz, para “entender” o que o Filho fez, para deixar que o Espírito Santo de Amor “dirija” o coral da história.

Feliz aquele pai que ensina aos seus filhos a escutar a canção de amor que têm em seu coração. Desde criança, para quando crescerem saber cantar junto com tantos irmãos e irmãs de boa vontade. Cantar com voz forte e corajosa, sempre, para, um dia, toda a humanidade louvar pela vida, dom de Deus, sem ódio e sem lágrimas, em paz, penhor de Vida Eterna. Como a Eucaristia.

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