O embaixador da União Europeia
no Brasil, João Cravinho, disse hoje (27), durante encontro com jornalistas,
que está otimista com as negociações em torno de um acordo comercial bilateral
entre Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela) e União
Europeia (UE). Para o novo embaixador, que inicia missão diplomática no país,
os momentos de dificuldade enfrentados, tanto pela UE quanto pelo Brasil, abrem
possibilidade para “pensar em novas soluções”.
“E isso é extremamente
encorajador, porque neste momento, para concluir uma negociação, é necessário apenas isso: alguma ousadia. Temos
um bom calendário à nossa frente, uma boa conjuntura”, afirmou.
Cravinho disse que as
propostas de trocas de ofertas entre os dois blocos devem ser apresentadas até
o final deste ano. Ele acrescentou que “ofertas ambiciosas” podem criar uma
dinâmica de compromisso em relação a novas soluções. “Em 2016, poderemos
avançar para, finalmente, ter a conclusão das negociações que já levam tantos
anos, mas hoje têm outras características”. Para o embaixador, os lados
precisam ser ousados, especialmente o Mercosul. A União Europeia “saberá
corresponder", ressaltou.
O chefe da delegação da UE no
Brasil destacou que, para ele, seria fácil “apontar o dedo” para o Mercosul e
dizer que o bloco tem que “oferecer mais”, e que tem que sair um pouco da tradição
protecionista. Uma tradição que, segundo ele, é muito forte em países da
América Latina e, particularmente, no Brasil e na Argentina. “Nós saberemos
corresponder, do nosso lado sabemos que, para encontrar uma solução
equilibrada, teremos que tomar algumas decisões difíceis, e estamos prontos
para isso”.
O acordo bilateral, segundo
Cravinho, corresponde a uma nova ligação entre os países envolvidos, em um
mundo onde os padrões comerciais vêm mudando a partir de acordos firmados. Ele
diz acreditar que, para o Mercosul, esta pode ser a oportunidade de integrar os
países ao processo internacional.
Entre os acordos que envolvem
o Brasil, o embaixador citou o projeto de construção de um cabo de fibra ótica,
que vai unir América Latina e Europa. “É um projeto da maior importância,
porque permitirá, tanto para o Brasil como para a UE, que não tenhamos somente
uma única forma de acesso e de transmissão de dados”. Ele disse que o processo
está avançado e que já foram formados consórcios para que o trabalho siga em
frente.“Durante o ano de 2016, poderemos, espero, inaugurar algo que tem um
significado geoestratégico grande, unindo a Europa com a América Latina por
meio do Brasil”.
Sobre questões relacionadas às
mudanças climáticas, Cravinho disse que, no início de novembro deste ano, vai
ocorrer um evento no Rio de Janeiro com a participação de autoridades europeias
e brasileiras, cientistas e a população. “Não há ninguém, neste planeta, que
não seja afetado pelas mudanças climáticas, e isso significa que temos que ter
um diálogo com todos. Todos têm responsabilidade em matéria de mudanças
climáticas e, nesse sentido, a primeira semana de novembro no Rio de Janeiro
será um momento de intercâmbio com toda a sociedade brasileira.”
Com relação ao Brasil, o
embaixador disse que, mesmo passando por um momento “delicado”, o país passa
confiança para a União Europeia. E lembrou que, no ano passado, foram feitos
investimentos europeus correspondentes a mais da metade do investimento estrangeiro
no país.
“Os agentes econômicos europeus acreditam no
futuro do Brasil. Não estão com o olhar para o debate politico do momento, do
dia, mas estão a olhar para aquilo que o Brasil representa e pode representar
em um prazo de 5, 10, 15, 20 anos. E nós, do lado da delegação europeia no
Brasil olhamos da mesma maneira o médio prazo, o longo prazo e olhamos com
grande confiança e grande expectativa com relação ao cumprimento das grandes
potencialidades do país”, afirmou.
O novo embaixador também falou
sobre a questão da imigração, problema enfrentado por países europeus. Segundo
ele, a temática é um dos aspectos que pode ser debatido entre a UE e o Brasil.
“O Brasil, obviamente, não enfrenta o mesmo tipo de pressões, mas tem alguns
fatores complicados na matéria de imigração e emigração. E, portanto, esta é
uma área muito passível de termos um diálogo aprofundado”.
O português João Cravinho,
representou a União Europeia na Índia durante os últimos três anos e foi também
secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação no governo de
Portugal, seu país de origem.
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